Crescimento
da religião no Brasil faz com que mesquitas do interior paulista recorram a
xeques de países africanos.
Ao lado
de uma típica praça do interior paulista, o templo branco bem poderia se passar
por uma paróquia não fosse a meia-lua, que remete ao islã, no alto da torre.
Em uma
sexta-feira, ao meio-dia, momento de uma das orações diárias na mesquita de
Barretos (423 km a noroeste de São Paulo), árabes e brasileiros tiram os
sapatos e ajoelham-se em direção a Meca.
Para quem
só fala português, as palavras proferidas em árabe na khutba (sermão) do xeque
egípcio Abdo Ghani, 47, parecem incompreensíveis por 20 minutos.
Depois, o
advogado e presidente da mesquita, Girrad Sammour, 31, com roupas comuns, fica
em pé e, em dez minutos, resume o sermão, dessa vez em português.
Pela
falta de líderes religiosos, a comunidade muçulmana do Brasil tem “importado”
xeques de países africanos.
Vivem
hoje no Brasil cerca de 50 xeques estrangeiros, a maioria deles proveniente da
África (Egito e Marrocos), de acordo com o CDIAL (Centro de Divulgação do Islã
para a América Latina).
E o
cuidado em se fazer entender leva à busca de xeques de Moçambique, país que
fala português e que tem parte da população muçulmana.
Dos 50
xeques, 8 são daquele país. A importação de líderes de língua portuguesa
cresceu há quatro anos, diz Ziad Ahmad Saifi, vice-presidente do CDIAL.
A vinda
de xeques visa atender à demanda crescente de seguidores do islã. Segundo o
CDIAL, 20 anos atrás, existiam cerca de 40 centros muçulmanos de oração no
país, número que incluía 18 ou 19 mesquitas.
Hoje são
150 pontos de oração, 60 deles mesquitas. Não há dados recentes do IBGE, mas o
Censo de 2000 apontou 27.239 muçulmanos no país -para o CDIAL, hoje já há 1,5
milhão de seguidores.
BRASIL NA
TV
Vizinha a
Barretos, a mesquita de Colina recebeu em agosto o xeque moçambicano Yussufo
Ahmad Omar, 34.
Na
mussala (centro de oração) em Guaíra, cidade próxima, está o xeque Tawakl
Avelino, de Moçambique.
Enquanto
Avelino ficará só por mais alguns meses, Omar deve prolongar sua permanência em
Colina e já se prepara para trazer a mulher Madalena e o filho Kamil, de um ano
de idade.
O que
Omar sabia do Brasil vinha da TV, de programas de auditório transmitidos pela Record
Internacional.
Ao chegar
ao Brasil, porém, conta ter sofrido com a burocracia no aeroporto. No ônibus
até Colina, foi parado por policiais após denúncia anônima da presença de
traficantes internacionais.
Mas a má
impressão inicial logo se dissipou, conta. “Aqui se aceita todo ser humano, o
que não há às vezes em outros países. Vejo aqui aquele sorriso que eu via na
TV.”
A
conversa da Folha com Abdo Ghani, do Egito, precisou da ajuda de tradução. Há
dois anos em Barretos, ele arrisca apenas poucas palavras em português:
“obrigado” e “fala muito rápido”, referindo-se à língua local.
Com
sorriso largo, Ghani mostra-se já adaptado ao Brasil. Corintiano, diz assistir
pela TV aos jogos de campeonatos de futebol do país.
Fonte:Folha Gospel